Cidade ou campo: qual sofre mais com o calor?
O calor extremo afeta cada área de formas totalmente distintas; entenda como isso acontece
Calor extremo e altas temperaturas têm sido um dos principais assuntos nos debates do meio agropecuário. Ondas de calor, máximas recordes, secas e outras condições climáticas ligadas ao calor têm afetado diversas regiões produtoras do país.
Mas, afinal, quem sofre mais com esse calor excessivo? As zonas urbanas ou as áreas rurais?
Há diferença entre o campo e a cidade?
Antes de responder essa pergunta, é importante esclarecer que o impacto do calor e suas diferenças entre as zonas rurais e urbanas variam dependendo da escala e dos locais que comparamos.
Não é o fato de um local ser cidade e o outro ser campo que vai causar uma diferença tão grande. Um local na linha do Equador, por exemplo, vai ser muito quente porque ele recebe muita radiação solar, mesmo esse local sendo no campo ou na cidade”, aponta o climatologista e mestre em geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Miguel Pocharski Garcia.
Quando olhamos e analisamos esses impactos do calor em uma esfera mais local, como aqui no Brasil, encontramos diferenças maiores em como altas temperaturas atingem diferentes localidades.
Ilhas de calor
Além de identificar a escala e os locais que vamos comparar, precisamos destacar algumas condições climáticas como as ilhas de calor. Esse fenômeno intensifica o calor em zonas urbanas por conta do uso da cobertura de asfalto e concreto em cidades maiores.
“Então isso (ilha de calor) pode agravar o calor. Chegando, inclusive, a cerca de cinco graus a mais quando comparamos com um ambiente rural, onde predomina o campo”, afirma Pocharski, “podemos pensar na urbanização como sendo um elemento essencial para que se tenha esse efeito da ilha de calor”.
Por conta desse fator podemos dizer que há muitos casos onde as temperaturas das cidades são superiores as do campo. Mas isso tem mudado por conta da chegada da urbanização nas zonas rurais.
O especialista conduziu uma pesquisa com produtores rurais do Rio Grande do Sul sobre o avanço urbano nessas áreas. “Na medida em que eles percebem o avanço da urbanização, eles também percebem o agravamento das temperaturas”, contou.
Impacto nos trabalhadores
Outro fator importante a se levar em conta é como o calor extremo afeta diretamente o trabalhador rural e o setor da agropecuária. Uma pesquisa de 2018 da revista Lancet mostrou que a quantidade de horas de trabalho perdidas por conta do calor no setor foi cerca de 443% maior do que as perdas na indústria.
De acordo com Pocharski, “o setor agrícola como um todo no ano (2018) perdeu mais de 133 bilhões de horas de trabalho por conta do calor extremo. Quando a gente compara com a indústria, ela chegou a perder cerca de 30 bilhões por ano de horas de trabalho”.
Um dos fatores que provocou essa queda de produtividade é a exposição do trabalhador rural, muitas vezes obrigatória, ao sol, ao campo e a natureza. Normalmente, esses trabalhadores executam tarefas diárias quando há um predomínio de radiação solar, podendo provocar problemas de saúde, e em alguns casos extremos, levar ao óbito.
“O trabalhador da cidade também sofre, mas muitas vezes na cidade a gente tem escritórios que estão, principalmente no Brasil, cada vez mais adaptados para receber as altas temperaturas”. Por esses e outros motivos, a porcentagem de produtores rurais que sofrem com o calor intenso é muito maior quando comparado aos das grandes cidades.
Quem sofre mais com o calor?
Não é possível determinar quem sofre mais com o calor excessivo. Se por um lado as cidades são assoladas pelas ilhas de calor, do outro o trabalhador rural acaba se expondo mais o sol por longos períodos do dia.
Além da preocupação com a própria saúde, o produtor rural também precisa ficar atento ao estresse térmico em animais, refrigeração de estufas, vitalidade das plantações, solos, gasto de água, incêndios, entre muitos outros fatores que acabam redobrando o peso do calor em cima dessas comunidades.
Vale lembrar que fatores como localidade são imprescindíveis na hora de avaliar os impactos do clima em diferentes regiões.
Fonte: Canal Rural